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Estudo de Hebreus

A carta aos Hebreus foi escrita em grego, entre o ano de 60 a 70 - antes da destruição de Jerusalém, sendo um dos primeiros livros do Novo Testamento, foi escrita por um escritor desconhecido, provavelmente Paulo, e destinada aos hebreus de cultura grega que se converteram ao evangelho, com o objetivo de fortalecimento da fé, apresentando Jesus como mediador de uma nova aliança.

Características

  • Fortalecimento da fé e evitar a apostasia dos hebreus dispersos e convertidos, diante da destruição de Jerusalém e da demora da volta de Jesus;
  • Mostrar Jesus como um rei espiritual e não político;
  • Mostrar que Jesus é superior aos anjos (Hb 1 e 2), a Moisés (Hb 3), ao sumo sacerdote (Hb 4.14,15 ,Hb 5);
  • Apresentar a nova aliança com Jesus, o novo sumo sacerdote (Hb 6.20);

O duplo pano de fundo cultural

O pensamento do mundo grego

O autor de Hebreus tinha um duplo pano de fundo, e desses dois panos de fundo procediam suas idéias.

Um pano de fundo de pensamento grego.

Desde o tempo de Platão — quinhentos anos antes os gregos viviam obcecados pelo contraste entre o real e o irreal, o visível e o invisível, o temporal e o eterno. A idéia grega era que em alguma parte existe um mundo real do qual este mundo é só uma cópia imperfeita, pobre e velada. Platão pensava que em alguma parte existia um mundo de formas, idéias ou modelos perfeitos, dos quais cada coisa deste mundo é só uma cópia imperfeita. Para mencionar um simples exemplo, em alguma parte se conserva o modelo, a idéia ou a forma de uma cadeira perfeita da qual todas as cadeiras deste mundo são cópias inadequadas.
Dizia Platão: “O Criador do mundo desenhou e levou a cabo sua obra de acordo com um modelo imutável e eterno do qual o mundo é apenas uma cópia.”
Filo, que extraiu suas idéias de Platão expressava: “Deus sabia a princípio que nunca se poderia obter uma cópia bonita, a não ser a partir de um belo modelo; que nenhum dos objetos perceptíveis pelos sentidos podia ser sem mancha se não estava modelado de acordo com um arquétipo e a uma idéia espiritual. Portanto, quando dispôs criar este mundo visível formou de antemão um mundo ideal para constituir o corporal de acordo com o modelo imaterial e semelhante a Deus.”
Todos os pensadores do mundo antigo opinavam que em alguma parte existia um mundo real do qual este mundo é só uma espécie de pálida sombra, uma cópia imperfeita. Aqui só podemos conjeturar e andar tateando; só podemos trabalhar com sombras e cópias imperfeitas. Mas no mundo invisível estão as coisas reais, perfeitas, o mundo tal como foi concebido por Deus.

O pensamento do mundo hebreu

O autor de Hebreus tem também um pano de fundo judeu.
Para o judeu sempre era perigoso aproximar-se muito a Deus. Disse Deus a Moisés:

  • “Porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Êxodo 33:20).
  • Jacó exclamou assombrado em Peniel: “Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva” (Gênesis 32:30). Quando Manoá se precaveu de quem tinha sido seu visitante disse aterrorizado a sua mulher:
  • “Certamente, morreremos, porque vimos a Deus” (Juízes 13:22). O dia da expiação constituía a grande data do culto judeu. Era o único dia do ano em que o sumo sacerdote entrava no santíssimo onde se considerava que habitava a própria presença de Deus. Ninguém jamais entrava ali a não ser o sumo sacerdote e este somente neste dia. Ao realizar este ato a Lei pedia que não se demorasse muito no lugar santo “para que Israel não se aterrorizasse”. Era perigoso entrar na presença de Deus; atrasar-se muito podia significar a morte.
    Dentro deste contexto surgiu no pensamento judeu a idéia de uma aliança.
    A aliança significava que Deus em sua graça e por iniciativa própria — de uma maneira absolutamente imerecida — se aproximava do povo de Israel e lhe oferecia uma relação especial consigo. De uma maneira única eles seriam seu povo e ele seria seu Deus; era o modo de ter um acesso especial a Deus. Mas este acesso estava condicionado à observância da Lei que Deus lhes tinha dado.
    Vemos como se cercou esta relação e aceitou-se a Lei na cena dramática de Êxodo 24 3-4. Assim, pois, Israel tinha acesso a Deus mas só se observasse a Lei. Quebrantar a Lei era pecado; o pecado interrompia o acesso a Deus e colocava perante ele uma barreira. Para apartar esta barreira se construiu todo o sistema do sacerdócio levítico e dos sacrifícios. A Lei tinha sido dada; o homem pecava; surgiam barreiras; se fazia o sacrifício destinado a restabelecer as relações rotas, recuperar o acesso perdido e abrir de novo o caminho a Deus. Mas segundo toda a experiência da vida era que precisamente isso era o que o sacrifício não podia conseguir. Era preciso repetir uma e outra vez os sacrifícios; os mesmos sacerdotes eram pecadores e devia oferecer em primeiro lugar sacrifícios por seus próprios pecados; nenhum sacrifício de animal é capaz de tirar efetivamente a culpa do pecado. A prova da ineficácia de todo este sistema estava em que os sacrifícios se deviam continuar ininterruptamente. O sacrifício era uma batalha perdida e ineficaz para remover a barreira que o pecado tinha colocado entre o homem e Deus.

O pensamento expresso na carta aos Hebreus

O que os homens precisavam era um sacerdote perfeito e um sacrifício perfeito; alguém que pudesse oferecer um sacrifício que de uma vez para sempre abrisse o acesso a Deus. Isto é exatamente o que, no dizer de Hebreus, fez Cristo. Ele é o sacerdote perfeito porque é ao mesmo tempo homem perfeito e perfeito Deus. Em sua humanidade pode levar o homem a Deus e em sua divindade pode trazer Deus ao homem. Ele não tem pecado. O sacrifício perfeito que oferece é o de si mesmo: um sacrifício tão perfeito que não precisa ser repetido jamais.
Aos judeus o escritor de Hebreus dizia: “Durante toda a sua vida vocês estiveram buscando o sacerdócio perfeito que pudesse oferecer um sacrifício perfeito para recuperar o acesso a Deus e anular as barreiras para poder viver para sempre na devida relação com Deus. Isto é o que têm em Jesus Cristo e só nele.”
Aos gregos o autor de Hebreus dizia: “Vocês andam buscando o caminho para sair das sombras à realidade; vocês o encontrarão em Jesus Cristo.”
Aos judeus o autor dizia: “Vocês andam buscando o sacrifício perfeito que lhes abra o caminho a Deus fechado por seus pecados; vocês o encontrarão em Jesus Cristo.”
Para o autor de Hebreus, Jesus era a única pessoa na Terra que dava acesso à realidade e a Deus. Este é o pensamento-chave de toda a Carta.

A Autoria de Hebreus

E. F. Scott escreveu: “A epístola aos Hebreus é em muitos sentidos o enigma do Novo Testamento.”

Orígenes fez a famosa observação. “Só Deus sabe com certeza quem escreveu a Carta aos Hebreus.”

Tertuliano pensava que foi escrita por Barnabé.

Jerônimo diz que a Igreja latina não a recebia como de Paulo e ao falar do autor diz: “O escritor de Hebreus seja quem for.”

Como o teor da carta é um contexto de perceguição, o autor pode ter se omitido para evitar a prisão. Pode também ser uma mulher (Priscila), o que não teria sido aceito pelos hebreus. Mesmo sem sua autoria era uma carta aceita em todas as comunidades cristãs, mas devido a autoria inserta dificultou a sua inclusão no cânon de livros da Bíblia, que usava o seguinte critério:

  • O livro era obra de um apóstolo ou ao menos de alguém que tivesse estado em contato direto com algum dos apóstolos?

Desconhece-se a paternidade literária deste livro. sugeriram-se vários nomes, como Lucas, Bernabé, Apolos, Priscila e Paulo. A maioria dos estudiosos não acreditam que Paulo tenha sido o autor, já que o estilo de redação empregado em Hebreus é algo diferente do das epístolas do Paulo. Além disso, Paulo se identifica em suas cartas e apela a sua autoridade como apóstolo, enquanto que o escritor de Hebreus nunca dá seu nome e, em busca de autoridade, apela às testemunhas presenciais do ministério do Jesus. Entretanto, o autor de Hebreus evidentemente conhecia bem ao Paulo. É provável que Hebreus fora escrito por um dos colaboradores do Paulo, que com freqüência ouviu seu prédica.1

Histórico

Passou muito tempo até que a Carta aos Hebreus formasse parte integrante do Novo Testamento.

  • A primeira lista dos livros do Novo Testamento — o Cânon Muratoriano compilado cerca de 170 — não a menciona absolutamente.
  • Os grandes sábios alexandrinos, Clemente e Orígenes, conheciam-na e a apreciavam, mas estavam de acordo em que seu lugar na Escritura era disputado.
  • Dos grandes Pais africanos, Cipriano nunca a menciona e Tertuliano reconhece que seu lugar era discutido.
  • Eusébio, o grande historiador da Igreja, diz que era contada entre os livros discutidos.
  • Só na época de Atanásio, em meados do século IV, Hebreus foi aceito definitivamente como livro do Novo Testamento.
  • O próprio Lutero não estava seguro disso.

É algo estranho que este livro tenha tido que esperar tanto tempo para chegar a possuir plena autoridade e reconhecimento.

Assim Hebreus ganhou seu lugar no Novo Testamento por razão de sua grandeza indiscutida; mas para obtê-lo teve que ser incluída entre as cartas de Paulo e passar sob seu nome.

Quando foi escrita

  • Certamente se escreveu para a que poderíamos chamar a segunda geração cristã (2:3).
  • O relato foi irradiado a seus destinatários por aqueles que tinham ouvido o Senhor.
  • A comunidade para a qual foi escrita não era nova na fé cristã, mas sim já amadurecida (5:12).
  • Devem ter tido uma longa trajetória porque os ameaça a olhar para trás, aos dias de antes (10:32).
  • Tinham atrás deles uma grande história e heróicas figuras de mártires que podiam contemplar em busca de inspiração (13:7).
  • O que mais nos ajudará a datar a Carta são as referências que se fazem à perseguição. É evidente que em certa época seus dirigentes tinham morrido pela fé, pois os insiste a lembrar a entrega de vida dessas grandes figuras (13:7).
  • Também está claro que eles mesmos não tinham sofrido ainda perseguição, pois não tinham resistido ainda até o sangue (12:4).
  • Também é evidente que tinham sofrido maus entendimentos, porque tinham tido que padecer o saque de seus bens (10:32-34).
  • E todo o teor da Carta patenteia que se está perante o risco iminente de uma perseguição.

Por tudo isto, pode-se dizer com segurança que a Carta deve ter sido escrita entre duas perseguições em circunstâncias em que os cristãos não eram de fato perseguidos mas não obstante eram impopulares. Agora, a primeira perseguição foi na época de Nero, no ano 64, e outra na de Domiciano cerca de 85.

Estrutura

  • Jesus Cristo é o Filho de Deus [Hebreus 1: 1]
  • Cristo é superior aos anjos [Hebreus 1: 4]
  • Avisos [Hebreus 2: 1]
  • Jesus, o Homem [Hebreus 2: 5]
  • Jesus é superior a Moisés [Hebreus 3: 1]
  • Aviso contra a incredulidade [Hebreus 3: 7]
  • O prometido repouso para o povo de Deus [Hebreus 4: 1]
  • Cristo é o nosso supremo sacerdote [Hebreus 4: 14]
  • Uma chamada ao crescimento espiritual [Hebreus 5: 11]
  • A garantia da promessa de Deus [Hebreus 6: 13]
  • Melquisedeque, o sacerdote [Hebreus 7: 1]
  • O sacerdócio eterno de Jesus [Hebreus 7: 11]
  • O sumo sacerdote do novo acordo [Hebreus 8: 1]
  • O velho tabernáculo, o novo santuário [Hebreus 9: 1]
  • O sangue de Cristo [Hebreus 9: 11]
  • O sacrifício único de Cristo [Hebreus 10: 1]
  • Chamada à perseverança [Hebreus 10: 19]
  • Grandes exemplos de fé [Hebreus 11: 1]
  • A correção de Deus prova o seu amor [Hebreus 12: 1]
  • Exortação à santidade [Hebreus 12: 14]
  • Exortações finais [Hebreus 13: 1]

Referências

  1. Comentários da Bíblia Díário Vivir(Esp). 

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