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Tipos de Parábolas

Em que diferencia a parábola da alegoria, da fábula, do provérbio e do mito?

A parábola é uma analogia, ou seja uma comparação usando algo conhecido e comum pelo ouvinte, para explicar outra coisa de forma mais simples. Quando, por exemplo, usamos uma palavra sinônima para explicar uma palavra desconhecida pelo ouvinte - o símile, ou fatos do dia a dia para demonstrar um acontecimento, ou um evento conhecido para alertar sobre algum perigo - o provérbio.

A bíblia é rica em parábolas demonstrando uma sabedoria didática para saber como lidar com as situações desafiadoras da vida.

Vejamos os variados tipos de parábolas:

O enigma

O enigma é uma declaração que desafia a sabedoria do ouvinte para demonstrar uma grande lição.

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O SENHOR enviou Natã a Davi. Chegando Natã a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre.  (2Sm 12:1)
Filho do homem, propõe um enigma e usa de uma parábola para com a casa de Israel;  (Eze 17:2)
Inclinarei os ouvidos a uma parábola, decifrarei o meu enigma ao som da harpa.  (Slm 49:4)
Abrirei os lábios em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos.  (Slm 78:2)
Todas estas coisas disse Jesus às multidões por parábolas e sem parábolas nada lhes dizia; para que se cumprisse o que foi dito por intermédio do profeta: Abrirei em parábolas a minha boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo. (Mat 13:34-35)

A metáfora

A metáfora se utiliza de algo conhecido por nós, onde na nossa experiência faz sentido, e conhecemos suas propriedades especiais, transferindo a outro objeto essas características conhecidas, de modo que o anterior nos dá uma ideia mais completa e realista das propriedades que o outro deve ter.

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Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo;  (Mat 13:24)
Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo;  (Mat 13:31)

O símile

O símile usa uma comparação entre duas coisas similares, e difere da metáfora por ser apenas um estado de semelhança, enquanto a metáfora transfere a representação de características.

No símile, a mente apenas repousa nos pontos de concordância e nas experiências que se combinam, sempre alimentadas pela descoberta de semelhanças entre coisas que diferem entre si.

O dr. A. T Pierson observa que “a parábola autêntica é, no uso das Escrituras, um símile, geralmente posto em forma de narrativa ou usado em conexão com algum episódio”. Portanto, parábolas e símiles se parecem.

O provérbio

Ainda que os princípios da parábola estejam presentes em alguns dos pequenos provérbios, das declarações proféticas enigmáticas e das máximas enigmáticas da Bíblia, no entanto, diferem do provérbio propriamente dito, que é em geral breve, trata de assuntos menos sublimes e não se preocupa em contar histórias. Os apócrifos reúnem parábolas e provérbios num só grupo: “Os países maravilhar-se-ão diante de seus provérbios e parábolas”; “Ele buscará os segredos das sentenças importantes e estará familiarizado com parábolas enigmáticas”.

Embora parábola e provérbio sejam termos permutáveis no NT, Trench ressalta “que os chamados provérbios do evangelho de João tendem a ter muito mais afinidade com a parábola do que com o provérbio, e são de fato alegorias. Dessa forma, quando Cristo demonstra que o relacionamento dele com o seu povo se assemelha ao pastor com as ovelhas, tal demonstração é denominada provérbio, embora os nossos tradutores, mais fiéis ao sentido que o autor pretendia, a tenham traduzido por parábola. Não é difícil explicar essa troca de palavras.

Em parte deve-se a um termo que no hebraico significa ao mesmo tempo parábola e provérbio”. De modo geral, provérbio é um dito sábio, uma expressão batida, um adágio.

A alegoria

Não é fácil distinguir entre parábola e alegoria. Esta última não é uma metáfora ampliada e dela difere por não comportar a transferência de qualidades e de propriedades. Tanto as parábolas como as metáforas abrangem expressões e frases, servindo para desvendar e explicar algumas verdades ocultas que não poderiam ser facilmente compreendidas sem essa roupagem.

Num verbete de Fairbairn 1 sobre as “parábolas”, em sua renomada Biblical enciclopédia , ele diz:

“A alegoria corresponde rigorosamente ao que se encontra na origem da palavra”.

Considerada dessa forma, a alegoria, em sentido mais amplo, pode ser tida como um gênero, do qual a fábula, a parábola e o que geralmente chamamos alegorias são espécies”.

A. alegoria, explica o dr. Graham Scroggie:2

“… é uma declaração de fatos supostos que aceita interpretação literal, mas ainda assim exige ou admite uma interpretação moral ou figurada”.

A alegoria difere da parábola por conter menos mistérios e coisas ocultas.

A alegoria se interpreta por si só e nela “a pessoa ou objeto, ilustrado por algum objeto natural, é imediatamente identificado com esse objeto”.

Diz o dr. Salmond:3

“Quando nosso Senhor conta a grande alegoria da vinha, do agricultor e dos ramos, em que ensina aos seus discípulos a verdade sobre o relacionamento que ele próprio tinha com Deus, começa dizendo que ele próprio é a videira verdadeira e seu Pai, o agricultor”.

Bullinger 4 lembra que há grande controvérsia sobre a definição e significado exato de alegoria e declara que, na verdade, os símiles, as metáforas e as alegorias são todos baseados na comparação:

  • Símile é a comparação por semelhança.
  • Metáfora é a comparação por correspondência.
  • Alegoria é a comparação por implicação.

Na terceira, é subentendida. A alegoria é então diferente da parábola, pois esta é um símile continuado, enquanto aquela representa algo ou dá a entender que alguma coisa é outra.

Há uma alegoria a que Paulo, em Gálatas 4 5, se refere de modo inequívoco:

“…O que se entende por alegoria…” .

A alegoria é sempre apresentada no passado e nunca no futuro.

A alegoria oferece outro ensinamento com base nos acontecimentos do passado, enquanto a profecia trata de acontecimentos futuros e corresponde exatamente ao que se diz.

Hillyer Straton, em seu A guide to the parables of Jesus 6, comenta que:

“A alegoria é uma descrição codificada. Ela personifica coisas abstratas; não põe uma coisa ao lado da outra, mas faz a substituição de uma pela outra. Cada aspecto da alegoria se torna importante”.

O dr. Straton, então, acaba por citar a mais famosa alegoria de toda a literatura: O peregrino.

A fábula

  • A fábula é uma narração fictícia que pretende ilustrar um princípio ou uma verdade .
  • A missão primordial da fábula é reforçar o conceito da prudência.
  • A fábula, usada poucas vezes nas Escrituras, está a quilômetros de distância da parábola, embora uma possa, em alguns momentos, ser semelhante à outra nos aspectos externos.
  • Comparando qualquer das fábulas com as parábolas de Jesus, percebe-se que a fábula é um tipo inferior de linguagem figurada e trata de assuntos menos elevados.
  • Está associada à terra e focaliza a vida e os negócios comuns a todos.
  • Tem por função transmitir lições de sabedoria prudente e prática e gravar nas mentes dos ouvintes as virtudes da:
    • prudência,
    • da diligência,
    • da paciência e
    • do autocontrole.

Também trata do mal como loucura e não como pecado, além de ridicularizar as falhas e desdenhar os vícios, escarnecendo deles ou os temendo. Essa é a razão por que a fábula faz grande uso da imaginação, dotando plantas e animais de faculdades humanas, fazendo-os raciocinar e falar. A parábola, no entanto, age numa esfera mais sublime e espiritual e nunca se permite a zombaria ou a sátira. Tratando das verdades de Deus, a parábola é naturalmente sublime, com ilustrações que correspondem à realidade nunca monstruosas ou antinaturais.

Na parábola, nada existe contra a verdade da natureza. Fairbairn diz:

“A parábola tem um objetivo mais admirável. A parábola poderia tomar o lugar da fábula, mas não o contrário”.

O tipo

  • Significa marca ou impressão e tem a força da cópia ou do padrão.
  • As parábolas unem os tipos de um lado, e os milagres de outro.
  • Todas as figuras de linguagem que a Bíblia emprega são elos de uma corrente unida de forma inseparável; os elos como um todo só podem ser desvinculados em detrimento de alguns.

Os muitos tipos da Bíblia constituem um estudo independente e fascinante, chamado tipologia, e assim como as metáforas, são palavras que podem ter seu simbolismo descrevendo categorias de significados e características de forma ímpar.

Por exemplo: na irônica referência de Ezequiel ao rei de Tiro como “querubim da guarda ungido”, Itobal, que se considerava um semideus, expandiu suas ambições além dos interesses de Tiro e tornou-se “um tipo” das pretensões do Anticristo vindouro, que se empenhará por imitar a Deus (Dn 7:25; 11:36,37; 2Ts 2:4; Ap 13:6). É muito provável ainda que, na “elevação de sua visão inspirada, o profeta enxergasse, por trás deste rei, a terrível figura de Sata-nás, de quem Itobal era instrumento e que possuirá e inspirará o Anticristo.

Portanto na tipologia de figuras e símbolos da bíblia, são demonstradas as coisas celestiais através das coisas terrenas. Assim os tipos sempre apontam para o seu anti-tipo correspondente, conforme vemos na tipologia seguinte: 7

Tipo= Anti-tipo
Adão homem carnal= Cristo homem celestial
Elias no carro de fogo= o arrebatamento da igreja
O sacerdote Melquisedeque= Cristo o sumo sacerdote
Davi rei de Judá= Cristo o rei dos reis
O maná no deserto= o alimento espiritual
A libertação do Egito= a libertação do mundo
A marcha no deserto= nossa peregrinação na terra

Conclusão

Fairbairn resume a parábola da seguinte maneira:

“Diferente do símile e da metáfora e considerada uma espécie de alegoria, pode-se dizer que a parábola é uma narrativa, ora verdadeira, ora com aparência da verdade; exibe na esfera da vida natural um processo correspondente ao que existe no mundo ideal e espiritual”.

Diagrama de tipos de parábolas

  graph LR
  A(Parábolas) -->|semelhança| B(Símile)
    B --> C(Será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas ...<br> Os ímpios ... são como a moinha que o vento espalha. Sl 1:3,4)     
  A -->|transfere as propriedades| D(Metáfora)
    D -->Met(Todos os homens são como a erva,<br> e toda a sua beleza como as flores do campo.<br> Seca-se a erva, e caem as flores... Is 40:6,7)
    D -->Met2(Pois o Senhor Deus é sol e escudo. Sl 84:11)
  A -->|adágio popular| E[Provérbio]
    E -->Prov(Pelo que se tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas? ISm 10:12)
  A -->|figuras  de linguagem| F[Alegoria]
    F -->Ale(Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.<br> Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas,<br> o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria...Gl 4:22,24)
  A -->|padrão ou exemplo| T(Tipo)
    T -->Ti(E beberam todos de uma mesma bebida espiritual,<br> porque bebiam da pedra espiritual que os seguia,<br> e a pedra era Cristo. ICo 10:4)
  Fa(Fábula) -->|Ilustra um princípio| Fa2(Narração fictícia)
    Fa2 -->Fab(Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei,<br> e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Jz 9:8)

Referências

Texto adaptado de:

LOCKYER Herbert. Todas as PARÁBOLAS da Bíblia - Uma análise detalhada de todas as parábolas das Escrituras. Ed. Vida, São Paulo, 2006.

  1. FAIRBAIRN , Patrick. Imperial standard Bible encyclopaedia. Zondervan, Grand Rapids. 

  2. SCROGGIE , W. Graham. A guide to the gospels. Pickering and Inglis, London, 1948. THE INTERNATIONAL standard Bible encyclopaedia. Eerdmans, Grand Rapids, 1939. 

  3. SALMOND , Principal. The parables of our Lord. T. and T. Clark, Edinburgh, 1893. 

  4. BULLINGER, E. W. Figures of speech Used in the Bible - Figuras de linguagem usadas na bíblia. Kindle edition, 2015. 

  5. CRISPIM, Cláudio. Gálatas 4 - As alegorias das duas alianças. Disponível em https://estudobiblico.org/galatas-4-as-alegorias-das-duas-aliancas/

  6. STRATON , Hillyer H. A guide to the parables of Jesus. Eerdmans, Grand Rapids, 1959. 

  7. EMELO, J. L. Sombras e mistérios da Bíblia. Disponível em https://ferramentasdeteologia.com/tipologia-tipos-humanos-de-cristo/

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